Crianças com doença de Kawasaki com risco aumentado de problemas cardíacos mais de 10 anos após serem hospitalizadas

As crianças com doença de Kawasaki permanecem num risco aumentado de eventos cardiovasculares mais de 10 anos após hospitalização pela sua condição, conclui um novo estudo, apresentado no ACR 2020, a reunião anual do American College of Rheumatology, o qual vem reforçar a necessidade de vigiar as doenças cardíacas a longo prazo e a importância das estratégias de redução de risco nestes jovens doentes. Perante o aumento, nas duas últimas décadas, da incidência de KD em Ontário, Canadá, um grupo de investigadores dessa província tentou determinar qual o risco de eventos cardiovasculares a longo prazo e morte entre os sobreviventes de KD. “A motivação para realizar este estudo resultou de uma conversa que tive com a família de um doente pediátrico, que foi diagnosticado com KD, e estava quase pronto para receber alta do hospital. Eles perguntaram-me se o seu filho correria risco de doença cardíaca mais tarde na vida”, disse o coautor do estudo Dr. Cal Robinson, nefrologista pediátrico do Hospital for Sick Children, University of Toronto. “Sem saber a resposta, investiguei mais profundamente a literatura publicada sobre os resultados cardiovasculares após a DK e descobri que existia uma lacuna de conhecimento significativa, principalmente nas crianças que não desenvolveram aneurismas de artéria coronária durante a fase aguda da sua doença. É muito importante entender melhor o risco cardiovascular após a infância com KD, pois o diagnóstico precoce oferece oportunidades de intervenção que podem diminuir o risco de doenças cardíacas mais tarde na vida”, referiu ainda o especialista, citado num comunicado de Imprensa do ACR 2020. Para o estudo (ABSTRACT #0937), os investigadores identificaram todas as crianças até aos 18 anos de idade que sobreviveram à hospitalização por KD em Ontário entre 1995-2018 com o recurso a bancos de dados administrativos de saúde. Incluíram nesta análise apenas a primeira hospitalização elegível, excluindo as crianças que foram previamente diagnosticadas com DK, bem como as não residentes de Ontário. A equipa de cientistas comparou cada caso de KD com 100 casos de controlo sem KD, tendo em conta a idade, sexo e ano, tendo então acompanhado esses doentes até à morte ou março de 2019, ou até aos 24 anos de idade. Foram determinadas as taxas de eventos cardiovasculares, eventos cardíacos adversos maiores (como ataque cardíaco ou AVC) e morte, comparando as crianças que tiveram DK com as que não foram expostas à doença. Foram analisados quatro períodos específicos após a alta hospitalar: 0-1 ano, 1-5 anos, 5-10 anos e mais de 10 anos. Os investigadores descobriram que entre os 4.597 sobreviventes de KD, 16,2% (746) sofreram eventos cardiovasculares em comparação com 5,2% das crianças sem a doença. Também foi possível observar que 1,7% (79) sofreram eventos cardíacos adversos maiores em comparação com 0,7% das crianças sem a doença, e ainda que nove morreram durante o período médio de acompanhamento de 11 anos. Os eventos cardiovasculares mais frequentes vivenciados por sobreviventes de KD foram cardiopatia isquémica, arritmias, hipertensão e doença vascular periférica. Em suma, os sobreviventes de KD corriam um risco mais elevado de problemas cardíacos em comparação com pessoas sem a doença e experimentaram eventos cardiovasculares mais cedo. O risco foi maior no primeiro ano após a alta hospitalar. Estes corriam igualmente um risco mais elevado de cirurgia cardíaca, como a cirurgia de revascularização do miocárdio. No entanto, o risco de morte durante o acompanhamento foi menor do que os doentes não expostos. “Os resultados do nosso revelam que os sobreviventes de KD têm um risco maior de desenvolver doenças cardíacas mais de dez anos após seu diagnóstico inicial, o que sugere que os sobreviventes de KD devem ser avaliados em intervalos regulares para averiguar o estado cardiovascular e fatores de risco associados”, considera o Dr. Robinson, acrescentando que “devem ser implementadas estratégias de redução de risco cardiovascular para todos os sobreviventes de KD”.

Crianças com doença de Kawasaki com risco aumentado de problemas cardíacos mais de 10 anos após serem hospitalizadas

Newsletter