Doentes negros com lúpus têm um risco três vezes maior de AVC

Uma nova investigação nos EUA revela que os doentes negros com lúpus têm um risco três vezes maior de acidente vascular cerebral (AVC) e um risco 24 vezes maior de doença isquémica coronária. O estudo também identificou vários sintomas específicos do lúpus que predizem o aparecimento do AVC e da doença isquémica nesses doentes. Os detalhes deste ensaio foram apresentados no ACR Convergence 2020, o encontro anual do American College of Rheumatology. O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença crónica, mais comum entre negros, asiáticos e nativos americanos, tendendo a ser mais grave nesses grupos. Este estudo (ABSTRACT #0433) pretendeu saber mais sobre os riscos específicos e preditores de AVC e doença cardíaca isquémica nesta população específica. “O risco de desenvolver doenças cardiovasculares é até 52 vezes maior nos doentes com lúpus, em comparação com os doentes sem lúpus. As populações negras têm um risco três vezes maior de desenvolver lúpus, desenvolvê-lo numa idade significativamente mais jovem e de este ser mais grave. No entanto, a maioria dos estudos anteriores sobre lúpus e doenças cardiovasculares (DCV) foram conduzidos em coortes com predominância de doentes caucasianos, limitando a generalização dos resultados”, refere o coautor do estudo, o Dr. Shivani Garg, professor assistente de Medicina da University of Wisconsin School of Medicine and Public Health. “É importante quantificar o risco, os fatores preditores e o tempo para o AVC e doença cardíaca isquémica em pessoas negras com lúpus, a fim de orientar o diagnóstico precoce de DCV e intervenções preventivas nesta população de risco”, reforça o especialista, citado num comunicado à Imprensa, divulgado pelo Gabinete de Comunicação do ACR 2020, acrescentando que “o estudo destaca a necessidade de cuidados preventivos mais agressivos na prevenção de doenças cardíacas para reduzir essas disparidades raciais e melhorar os resultados do lúpus, particularmente em doentes recentemente diagnosticados”. Para o estudo, os investigadores recolheram dados dos doentes com lúpus, de Atlanta, através do Georgia Lupus Registry. Foram identificados os doentes, entre 2002 e 2004, que preenchiam quatro ou mais critérios de LES do ACR ou três critérios com diagnóstico final de lúpus estabelecido pelos seus próprios reumatologistas. Depois, foram cruzados os dados dos doentes com as informações do banco de alta do Georgia Hospital e com a taxa nacional de mortes de 2000 a 2013. Os investigadores também analisaram sintomas que pudessem prever o surgimento de AVC e doenças isquémicas coronárias. Dos 336 doentes com lúpus incluídos no estudo final, 87% eram mulheres, 75% eram negros e a média de idade no diagnóstico era de 40 anos. Os investigadores encontraram 38 eventos de saúde relacionados com AVC e 25 com doenças cardíacas isquémicas ou mortes que ocorreram entre dois anos antes a 14 anos após o diagnóstico de lúpus. Em 11% dos doentes que sofreram AVC, a idade média do primeiro AVC foi de 48 anos e 78% dos AVC ocorreram em mulheres. Além disso, 90% dos AVC aconteceram em doentes negros, sendo que o número máximo de AVC deu-se no segundo ano após o diagnóstico de lúpus. Os resultados mostraram igualmente que 8% dos doentes eram portadores de cardiopatia isquémica e que a sua média de idade ao diagnóstico era de 52 anos. Todos os casos de cardiopatia isquémica ocorreram no sexo feminino, 96% em doentes negros e o pico de casos aconteceu no 14.º ano após o diagnóstico de lúpus. Ao todo, os dados mostraram que os doentes negros com lúpus têm um risco três vezes maior de AVC e um risco 24 vezes maior de doença cardíaca isquémica do que outros grupos. E quanto aos potenciais preditores de AVC ou doença isquémica coronária? A erupção cutânea discoide no momento do diagnóstico de lúpus previu um risco cinco vezes maior de AVC, enquanto a doença renal no momento do diagnóstico de lúpus previu um risco duas vezes maior de AVC. Contudo, nem a erupção discoide nem o distúrbio renal previram a doença cardíaca isquémica. Os preditores mais fortes de doença isquémica coronária foram os distúrbios neurológicos (psicose ou convulsão anterior) e os distúrbios imunológicos, embora não tenham sido preditores de AVC.

Doentes negros com lúpus têm um risco três vezes maior de AVC

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